Aos 78 anos, dona Francisca Maria provou que sonho adiado não é sonho esquecido — é só sonho com data remarcada. Diretamente da zona rural de Uiraúna, no sertão paraibano, ela acaba de se formar em Direito. Isso mesmo: uma sertaneja aposentada, que há 45 anos precisou abandonar a faculdade por falta de recursos, agora realiza o sonho com papel, caneta, coragem e fé.
Ela escreveu seu TCC todo à mão e viajava mais de 100 km por dia até a faculdade em Cajazeiras. Saía antes das 5h, chegava na cidade e esperava a faculdade abrir orando na igreja. "Era um olho no tanque e outro nos livros. Enquanto a água ia chegando eu ia estudando e também olhando se o tanquezinho ia vazar", conta ela sobre os estudos feitos no quintal de casa enquanto esperava a água cair na torneira.
O trabalho de conclusão? Um tema que traduz sua jornada: a permanência da pessoa idosa no ensino superior. A neta digitava cada página escrita à mão. E a filha, que no começo foi contra a ideia, hoje é só orgulho — e já pensa em seguir o mesmo caminho.
"Devido à idade, devido aos meios de transporte, a gente temia, até por Cajazeiras ser uma cidade bem maior. Tinha também a questão de assalto. Minha mãe é muito solidária, confia em todo mundo. Então a gente se preocupava. Eu particularmente levantei a bandeira. Mas hoje eu já disse a minha filha: 'o jeito é a gente fazer o curso igual mainha tá fazendo'"
Dona Francisca virou inspiração dentro e fora da sala de aula. “Ela sempre foi um farol”, disse o professor orientador. E como negar? Ela venceu o tempo, a distância, a falta de estrutura e até a dúvida dos que a cercavam. Agora, é exemplo vivo de que nunca é tarde demais para recomeçar.
Fonte: G1
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